quarta-feira, 1 de julho de 2009

Off-topic: ler devia ser proibido...

Minha querida "amiga virtual" Lu está me cobrando uma postagem nova, acho que ela está mal acostumada com o ritmo do meu blog - rsrsrs... Mas na verdade eu estou devagar mesmo porque ando investindo em uns UFOs: o meu segundo gato do Desafio dos Gatos (não resisti, não deu para esperar até julho!), uma almofada em crochê que eu já estava querendo fazer há tempos para minha sala (trabalhinho interminável!) e uns presentinhos para a Vanessa que também já não era sem tempo. O gato eu devo terminar em breve e vocês já o verão, mas os presentinhos eu não vou postar agora ainda que termine algum - sou má! hehehe

Eu fiquei então de ver uns gráficos de ponto cruz para animar um pouco, vou tentar arrumar um tempo para postar até o fim de semana. Enquanto isso deixo vocês com um texto bem legal que recebi de minha cunhada Daniela, espero que gostem! É longo mas vale a reflexão.

AH! Não esqueci o selinho Lia! Vou ver se publico junto com os gráficos!



Ler Devia Ser Proibido...

"Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram, meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.

Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, neces sariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.

Não, não deem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Pr ofessores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.

Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verosimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade. O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas leem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais, etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. É esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova… Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.

Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos. Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.

Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos… A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.

Ler pode tornar o homem perigosamente humano."

Guiomar de Grammont


7 comentários:

Ana Rodrigues disse...

Olá!
Gostei muito!
Obrigado por disponibilizares!
Os ditadores actuam assim... dividem p/ governar e tudo fazem p/ que os outros vivam na ignorância...
Bjs e continuação de boa semana

Luciana F. Damiano disse...

Pois é, infelizmente as pessoas ainda lêem pouco....Os livros distraem, divertem, educam, entristessem, revoltam, fazem surgir sentimentos por vezes estranhos a nossa realidade. Cada página é uma aventura, não só para a criança, mas tb para os adultos. Uma vez, li um pensamento, mas não sei o autor, rss: " Ler um livro pela primeira vez é travar um novo conhecimento, lê-lo pela segunda vez, é encontar um velho amigo."

Bjs
Lu

Vanessa Biali disse...

Vc é muito má mesmo!...rsrsrs
Prometo ser má à altura, tá bom?
Lindo texto, Dora...
Ah, a leitura!... Aprender a ler/escrever foi a coisa mais importante que aprendi. Para mim, é respiração, expressão, impressão que deixa marcas ou apenas as rascunha, libertação, enclausuramento...
Recentemente, quando li meu primeiro livro em inglês, me senti tão poderosa!... e tão frágil por ainda desconhecer tanto... :-S
Eu sei que quando suas postagens demoram a aparecer, é porque algo lindo está sendo feito por suas mãozinhas... Afinal, viciadas do mundo crafter não param!...rsrs
Beijos.

Ana Rodrigues disse...

Voltei...
Tens uma Rosa e um Beijo no meu blogue p/ ti!
Bjs e tudo de bom

M. Regina disse...

Mito bom o artigo sobre a leitura.abraços

Carla disse...

Tem gente que diz que faço uns comentários enormes! Bom, esse não vai ser. Depois de um texto desses, não há muito o que se dizer, só a se refletir e a, claro, ler, ler, ler.

O engraçado nisso tudo é que, quando vi o título da sua postagem, lá na parte das minhas atualizações de preferidos, pensei, irônica, "'Ler devia ser proibido', que o diga Emma Bovary!" Eis que chego aqui e o texto maravilhoso deu conta até disso!

Rafa disse...

Bom, é bom ver vc ativa. só não podia imaginar que estaria torturando gatos, à guisa de artesanato. Como assim "estou terminando um gato?" Tem a ver com o Mortal Kombat, tipo "Finish Him!"? Affe, Isa, jamais imaginei que vc seria capaz disso...

O texto acima é FICCIONAL, rs. Sei lá, vai que levam a sério.

Bom, falando de leitura, recomendo "Crime e Castigo", do Dostoiévski. Tem a ver com abrir novos caminhos de pensamentos e muito com as relações humanas, nunca as fantasiadas, nem as ignoradas pelos hipócritas que preferem sempre fingir que tudo está bem, mas as reais, as ATEMPORAIS. Como as que ele transpôs nessa magnífica obra, como as que vivemos.

Bjão, Isa.

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