terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Sobre leigos...

É engraçado o valor relativo das coisas.  No inverno passado vendi muito cachecol de bolinha e de babado. As pessoas ficavam absolutamente gamadas por eles e pagavam um preço que eu, sinceramente, não pagaria. Lucrei muito mesmo, por um trabalho que exige zero de criatividade e pouquíssima técnica. Até meu filho de dez anos aprenderia a fazer um cachecol daqueles em três tempos! Mas essas mesmas pessoas jamais estariam dispostas a pagar muito por um trabalho bonito e elaborado, um bordado delicado ou um crochê bem feito.


Pois bem, esta semana tive outra prova de que nós crafters vemos o mundo craft com olhos completamente diferentes dos leigos. Quem se lembra desta bolsa AQUI? Um erro crasso, crochetar um motivo com desenho usando linha matizada! As flores "sumiram"! (vejam a diferença para esta AQUI, que eu fiz depois). Eu estava usando essa bolsa como sacola para carregar meus livros - barbante grosso, bom para segurar peso, e a cor é bonita  (embora não tenha saído bem na foto) Ela bem recebia uns elogios lá no meu trabalho, perguntaram se eu fazia para vender, essas coisas. Daí que minha irmã viu, gamou e levou. Pensei que ela fosse usar na praia ou algo do gênero, mas ela usa em tudo que é canto. Estes dias veio me dizer que essa bolsa só recebe elogios, inclusive de estranhos em shopping de bacana na zona sul do Rio!! Quase caí para trás!


Que isto sirva de lição para quem vende seus crafts! Nem sempre o valor que damos ao produto é o valor que o mercado pagaria. Talvez devêssemos guardar nossos crafts mais elaborados e preciosos para nós mesmas ou para dar de presente para quem valoriza, e colocar um preço "de mercado" em crafts mais simples, mesmo que para nossa avaliação pareça caro de mais por um trabalho sem muita criatividade ou técnica (ou com erros, como o caso da minha sacola! kkkk!).


Pegando carona no assunto, já viram este lançamento da Aslan - link? Pois é...


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15 comentários:

Unknown disse...

Dorinha concordo com você, mas nós sabemos o valor de nosso trabalho, que é feito com muito carinho! Quanta energia boa vai ali empregnada e muitas vezes os " leigos " não sabem dar o devido valor! Dou muito, mas muito valor para o trabalho de um artesão, pode não ser do nosso gosto, mas ali está sua inspiração e sua dedicação e muita , mas muita vontade de acertar!!! bjs e bom feriado! Nina

Isadora disse...

Sim, foi isto o que quis dizer, Nina. Não dá para desvalorizar um trabalho tão elaborado e bonito vendendo a preço de banana, pois as pessoas não dão valor e não vão pagar o que achamos que vale. Se vc precisa fazer dinheiro com artesanato, guarde suas obras "do coração" para presentear quem valoriza e deixe o mercado pagar seu pão de cada dia. Se as pessoas querem cachecóis de babado, vamos vender cachecóis de babado e guardar aquele bordadinho lindo e trabalhado para nós mesmas ou para presentear. Eu particularmente acho melhor fazer isso do que vender um trabalho desses por um preço irrisório, ver as pessoas torcerem o nariz para os pontinhos que demos com tanto amor e reclamarem do preço. Se temos contas a pagar, que o mercado dite as regras do que vendemos.

Isadora disse...

Alías, pessoas, quero deixar claro que estou generalizando aqui. Sei que existem artesãos que conseguem vender um trabalho bonito e elaborado pelo preço que acham justo. Isso é muito gratificante, poder colocar toda sua energia positiva e capricho numa peça sabendo que será bem recompensado. No meu caso, eu até gostava de fazer cachecóis, vê-los crescer, ver cores diferentes surgindo, mas era um trabalho muito mais mecânico do que outros trabalhos criativo que faço e que não venderia pelo preço que o mercado paga.

Unknown disse...

oi Dora, falando em cachecóis, fiz alguns ano passado, para dar de presente e ficava imaginadno a pessoa que iria ganhar como ficaria com eles! É mesmo assim, como você disse, aqueles que realmente tem um significado ou uma representação maior pra nós , damos de presente para pessoas que vão valorizá-los! bjs Nina

Vanessa Biali disse...

É verdade, Dora!
Há trabalhos minuciosos que levam semanas (ou até meses) para serem finalizados e não têm a sua valorização comercial justa.
Muitas técnicas antigas estão caindo em desuso pela sua complexidade e pela sua pouca valorização. (Agora, me lembrei do bordado Richelieu, ponto matiz e tantos outros feitos à mão que estão cada vez mais raros de se ver).
Eu sou uma apaixonada pelos trabalhos "mais simples" (com pouca especialização na técnica) e, também, pelo mais complexos, únicos e minuciosos. Mas, como bem você destacou, cada um tem o seu lugar.
É engraçado como a gente se surpreende com o encantamento dos "leigos" com as peças simples que fazemos... Talvez, o feito à mão esteja sendo valorizado por ser raro num mundo de abundância de plástico e sintéticos de todo tipo. Porém, ainda não há uma cultura de apreciação de um trabalho feito à mão com muito investimento de técnica e energia.
Bjs,
Vanessa

deise PAES disse...

Sinceramente fico de saco bem cheio com esse monte de gente que queima o mercado... vendendo barato demais [ou vendendo produtos bem meia boca! Vejo dezenas no Elo7!]!!! Eu não "dou" o que faço só pra dizer que tenho clientela... quer comprar é x e ponto!
Adoro presentear... dou sem dó! Agora ficar vendendo minhas coisas como se fossem bugigangas isso não mesmo!
Beijos! Aproveite o dia de feriado... hihi

Luciana F. Damiano disse...

Pois é...eu vivencio isso. As vezes pagam caro por uma coisa que faço rápido e é simples, e não querem nem saber de investir em algo realmente trabalhoso... A pessoa não-crafter que dá valor ao trabalho manual, muita vezes vem de família que tem artesãos, mas ela mesma não soube ou quis seguir esse rumo, mas sabe exatamente o trabalho que dá e paga por isso. Já reparei/ tenho conhecimento desses casos. Mas esta certíssima a fazermos as coisas especiais para presentear que admira! É sucesso garantido :P
bjs

Ana Paula R. Portela disse...

Ih, em se tratando de trabalho manual... acho que qualquer preço é pouco.
Estou há meses, como voçes podem acompanhar no dicas, aprendendo o "reticello", que é um primo do richelieu. Caramba, só de pensar que alguém pode "pretender" uma peça, por menor que seja, a preço de banana, me entristece.
Não é possível que o povo que quer comprar não pare para pensar no fator tempo. Sabe-se lá quantas horas, alguém ficou ali bordando, bordando, ou costurando
Dora, pra variar, mais uma vez você levantou uma "bola" importante.
Bom fim de carnaval pra todas.
Bjs

Ana Paula R. Portela disse...

Ah, lembrei: você já viu, no Elo7, pessoas vendendo "centenas" de flores ou corações, de crochê, por R$ 20,00??? Devem ter roubado de algúem, ou então inventaram uma máquina, pois se forem feitas à mão...
bJS

Carla disse...

É, essa percepção relativa de preços pode mesmo nos surpreender ou nos matar de raiva. Acho que as peças de moda, os acessórios, alcançam preços mais expressivos. Já coisas para a casa, nem tanto. As pessoas pagam muito mais por um cachecol ou uma bolsa do que pagariam por uma colcha de squares elaborados. Pelo cachecol ou pela bolsa, pagam alegremente. Pela colcha, olham bem para você e ainda perguntam coisas como "isso tudo?" ou "nossa, mas não dá para fazer um desconto?". Nem tento vender peças. Entre outros motivos, por esse que você abordou aqui na sua postagem.

Lórien disse...

Excelente reflexão! Vai por aí mesmo. E às vezes é muito frustrante quando você faz alguma coisa que exigiu muita técnica, levou dias para ser feita, e as pessoas não percebem isso. É bem complicado até entender o que as pessoas curtem ou não...

Márcia LP disse...

Olá Dora!
Realmente é uma loucura essa questão do valor que damos às coisas. Não fique triste não, mas vejo apenas como uma questão de mercado: a lei da oferta e procura. Artigos artesanais que estão na moda, podem ser melhor vendidos, pois existem muitas pessoas à procura deles. Então, o valor sobe, mesmo se a mão de obra seja mais simples.
Quanto aos trabalhos mais demorados e realmente elaborados, tudo vai depender de se encontrar mercado para eles. Infelizmente, muitas técnicas manuais acabam por ser comparadas com produtos industrializados o que dificulta a sua comercialização a preços justos. Então vai muito da cabeça do artesão que pode realmente jogar no lixo a sua peça ou pode encontrar formas de viabilizar a venda do seu trabalho. Acho que existem pessoas que são brilhantes ao revitalizar técnicas mais antigas, modernizando conceitos e tornando os produtos novamente atraentes para o mercado.
Uma toalha de banquete bordada à mão no hardanger, por exemplo, pode ser um produto com pouquíssimos compradores pagando o valor devido, mas uma mesma toalha com apenas alguns apliques desse bordado, ou apenas um conjunto de jogos americanos, pode ser mais viável.
Será que consegui me expressar direito? Bom, não entendam, de jeito nenhum, que as pessoas devam abaixar o valor de suas artes. Muito pelo contrário, mas o mundo muda, as pessoas mudam e os interesses também. Então os artesão também tem que acompanhar essas mudanças e também evoluir na sua arte.
Existem vários cursos, inclusive no Sebrae (gratuitos), voltados para o estudo do mercado consumidor.
Vale a pena se informar, principalmente para as pessoas que estão trabalhando exclusivamente nesse meio.

Beijokas pra todas e parabéns por levantar esse assunto!!!

Márcia LP disse...

Ah! Aproveitando a conversa...
Carla Stu!!!!!! Saudades de você!!!!!!!!!!!

Pizinha Artesanatos disse...

Dora concordo com tudo que vcs comentaram aqui, não acrescento e nem tiro nada!
Bjs,

Joyce

Izabel Biali disse...

Assino em baixo de todos os comentários, das amigas.
Beijo
Izabel

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